Gilles Villeneuve: O verdadeiro artista

Gilles Villeneuve foi um dos mais espetaculares e "loucos" pilotos de F1. Nenhum como ele era capaz de descobrir os limites da pista para lá deles mesmos. Poderia ter sido Campeão do Mundo em 1982, caso a morte não o fintasse em Zolder.

Quem não se lembra da sua forma quase suicida como ele abordava as curvas no final da reta de Jarama? Ou da célebre luta com René Arnoux, em Dijon? Pois foi sempre assim, Gilles Villeneuve, campeão de motos de neve no seu país, depois de Fórmula Atlantic, antes de deixar estupefacto o mundo da F1 quando se estreou, num McLaren, em Silverstone. Logo de seguida, a Ferrari foi buscá-lo - e ele 'agradeceu' com um primeiro acidente, no Japão. Para ele, era mais importante o prazer de correr, que de ganhar. Talvez por isso, foi um dos "filhos" diletos do comendador Enzo. Um dos últimos, é bom que se deixe bem claro.

A alegria de viver

Gilles Villeneuve não era, de forma nenhuma, o piloto perfeito. Para ele, o importante era andar sempre a fundo; poupar a mecânica, gerir estratégias, não eram coisas que minimamente lhe interessassem. Ou, sequer, ganhar: só assim se explica o escasso número de vitórias conquistadas - seis, em 67 Grandes Prémios de F1 disputados. A alegria extrema não era subir ao lugar mais alto do pódio - era pilotar em condições limite, dominar a máquina, gozar o mais puro prazer de estar a fazer aquilo que sempre quisera fazer.

E diga-se: na verdade, para Gilles Villeneuve o desafio não era a F1; era a máquina. Os mitos acompanham a sua memória: a aposta com Didier Pironi, seu colega e amigo na Ferrari (antes da fatídica discussão que levou ao acidente mortal do canadiano), sobre quem demoraria mais tempo de acelerador colado no fundo... ao volante de um Ferrari de série, pelas auto estradas italianas; o desafio sobre quem gastava menos tempo a percorrer a distância entre Maranello e a cidade do Mónaco; as tresloucadas viagens, com carros de aluguer, entre as pistas e os aeroportos mais próximos, que terminavam invariavelmente com os carros destruídos e os seus incautos colegas de viagem (tantas vezes a própria esposa, Joann, e os filhos Jacques e Melanie, que Gilles, homem de origens humildes e devoto à família, levava sempre consigo para as provas!); ou, testemunhado pelos atónitos jornalistas, o desafio apocalíptico entre o seu Ferrari de F1 e um jato da Força Aérea italiana.

Profético, não muito antes do seu acidente fatal, em Zolder, faz hoje 29 anos, na véspera do Grande Prémio da Bélgica, disse a um jornalista: "Nunca penso que me posso magoar seriamente. Se pensar nisso, como posso eu fazer o meu trabalho?"






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