O que eu vou dizer lá em casa, Hildebrand!

Imaginem-se você ter 23 anos e estar prestes a entrar para a história do automobilismo mundial ao vencer a edição de cem anos das 500 Milhas de Indianápolis. Você está em sua primeira temporada na Indy e numa equipe que já foi grande, mas que hoje é apenas intermediária no pelotão. Você está se aproximando da curva 3 e dá de cara com um retardatário, mas aquela é a última volta e seu combustível está acabando, com outros pilotos vindo detrás sem nenhuma preocupação em economizar. Isso era o cenário de J.R. Hildebrand quando faltavam quinhentos metros para uma bandeirada consagradora e, ao mesmo tempo, surpreendente. Porém...


Quando o jovem americano deixou Charlie Kimball para trás na última volta, pensei. ‘Ele está alto demais.’ Não roguei nenhuma praga e muito menos azarei o pobre rapaz, que foi para a sujeira e se estrepou todo na curva 4. Numa tentativa desesperada, acelerou o que restava do seu Panther rumo à bandeirada, mas Dan Wheldon estava próximo demais e conseguiu sua segunda vitória na pista de Indiana na última curva da última volta. Se a edição deste ano das 500 Milhas já entraria para a história por causa do centenário da corrida, a chegada de hoje aumentou essa sensação e Hildebrand, que teria dado uma guinada em sua carreira com essa vitória, como aconteceu com Trevor Bayne quando este ganhou as 500 Milhas de Daytona no início deste ano, poderá cair no ostracismo com uma das mais cruéis derrotas na longa história de Indianápolis.

A prova de hoje em Indianápolis tinha sido um domínio da Ganassi, com Franchitti e Dixon se revezando na liderança da corrida, enquanto Tony Kanaan fazia uma ótima corrida de recuperação e a carruagem do time de Sam Schmidt virava abobora na medida em que Alexandre Tagliani perdia rendimento. A Penske fazia uma corrida irreconhecível, com seus três pilotos tendo problemas em vários momentos da corrida e ficando longe da vitória. Numa das poucas bandeiras amarelas da corrida, já no final, a estratégia entrou em campo e a Ganassi dividiu a tática entre seus dois pilotos, com Scott Dixon permanecendo acelerando forte, enquanto Franchitti diminuía o ritmo e tentaria vencer economizando combustível. Porém, outros peões faziam parte deste complexo tabuleiro. Oriol Servia continuava andando forte, corroborando com o forte mês do espanhol no oval de Indiana. Tony Kanaan finalmente chegava ao pelotão da frente, trazendo consigo Graham Rahal, da segunda equipe Ganassi e estava muito forte no final. E Dan Wheldon. Após uma ótima fase na década passada com a Andretti, que lhe deu um título e uma vitória em Indianápolis em 2005, o inglês foi perdendo espaço na Indy e esse ano não conseguiu nenhum cockpit. Apenas um contrato com o time do seu ex-companheiro de equipe Bryan Herta para correr em Indianápolis. Wheldon surpreendeu com um bom treino e o inglês soube utilizar a sua experiência durante a corrida, sempre se mantendo entre os dez primeiros.

Na medida em que as últimas paradas iam acontecendo, a corrida ia se definindo. Danica Patrick liderou várias voltas até parar, cedendo seu lugar ao obscuro belga Bertrand Baguette. Quando o europeu parou, parecia que Franchitti, andando muito devagar, venceria, mas, praticamente do nada, apareceu Hildebrand na frente. O americano vinha mais forte do que o escocês e ultrapassou Franchitti, passando a liderança. Ele teria combustível? Quando recebeu a bandeira branca, parecia que o piloto da Panther ganharia, mas Hildebrand fez o maior erro de um piloto nos últimos tempos, entregando a vitória de bandeja para Wheldon, que estava no mesmo ritmo de parada de Dixon, Rahal e Kanaan, mas superou-os quando foi aos boxes uma volta antes e manteve um ótimo desempenho nas voltas derradeiras.

Foi uma corrida inesquecível e com um vencedor inesperado. Quem poderia imaginar Dan Wheldon vencendo uma prova após ter sido demitido da própria Panther ano passado? Licença poética ou não, o inglês se vingou de sua antiga equipe de uma maneira que ninguém irá esquecer. Principalmente Hildebrand.

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