Segurança na F-1 - Parte V: Lauda e os quatro salvadores

Continuando a série sobre a segurança nas pistas da F-1 nos anos 60 e 70, vamos contar um incidente de 1976, envolvendo o futuramente tricampeão mundial Niki Lauda. Outra vez a GPDA foi incapaz de superar os interesses corporativos aconteceu no chamado “The Green Hell” (O Inferno Verde), os 23km de Nurburgring.

Desde 1969, os pilotos fizeram dezenas de solicitações para melhorar as condições de atendimento na gigantesca pista alemã. Nada de realmente importante foi feito além do fim de alguns “saltos” na pista. Olhem imagens do GP de 1973 e imaginem o risco dos pilotos, a mais de 300km/h nesta pista perigosíssima:



Em 1976, o austríaco Niki Lauda, da Ferrari, era o líder do Campeonato. Atual campeão, o piloto tinha o dobro de pontos do segundo colocado, o sul-africano Jody Scheckter. Antes do GP da Alemanha, disputado no “Nordschleife“, como era chamado o antigo traçado de Nurburgring, o austríaco foi um dos maiores críticos às condições de segurança da pista. E acabou se tornando sua última vítima…

Lauda liderava na terceira volta quando teve uma suspensão traseira quebrada. Ele bateu no barranco e voltou para a pista, já com o carro em chamas. Para piorar, foi acertado pelo norte-americano Brett Lunger e pelo alemão Harald Ertl, enquanto o britânico Guy Edwards desviou e o italiano Arturo Mezario parou para ajudar no socorro.

Com o fogo alto, os fiscais não conseguiam debelar as chamas, enquanto consciente, Lauda estava preso no carro.

Então, em um ato de supremo heroísmo, Lunger pulou nas chamas e puxou Lauda pelos ombros, enquanto Mezario desafivelava o cinto da Ferrari. Lunger e Lauda rolaram pela grama, longe do fogo. Isto está bem claro no vídeo abaixo, a partir do instante 1min12s:


Lauda sofreu várias queimaduras e mais tarde entrou em coma devido aos gases tóxicos inalados e transferidos para o sangue. Chegou a receber a “extrema-unção”, mas se recuperou com graves cicatrizes no rosto e na cabeça

O austríaco, então com 26 anos, se recuperou de maneira fantástica, fez cirurgias plásticas e voltou a correr duas corridas depois, chegando em 4° lugar no GP da Itália. Na última prova da temporada, ele desistiu de correr devido às péssimas condições de segurança na pista de Monte Fuji, no Japão. Assim, o britânico James Hunt venceu e se sagrou campeão mundial pela primeira e única vez.

E os quatro heróis? Nenhum deles teve sucesso nas pistas, mas todos receberam reconhecimento mundial pelo ato de bravura.

Edwards recebeu da Rainha Elizabeth a ‘Queen’s Gallantry Medal’, por ato de coragem. Mezario e Lunger, ainda vivos, seguidamente falam daquele dia.

Harald Ertl, que morreu em 1982 em um acidente aéreo, se tornou célebre para todo o sempre por causa de seu visual excêntrico. Mas sobretudo por um ato de coragem.

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