Segurança na F-1 - Parte VII: o herói eterno David Purley


“Fazer algo bem vale tanto a pena que morrer tentando ainda melhor não pode ser loucura. A vida é medida em realizações, e não em anos.” – Bruce McLaren, 1964.

Esta frase, do grande piloto neozelandês fundador da escuderia homônima, vale para David Purley, um inglês de talento e resultados obscuros, mas dotado de algo que não tem preço: a solidariedade.

No GP da Holanda de 1973, na temerária pista de Zandvoort (que vitimara o piloto Piers Courage três anos antes), este piloto entrou para a história da humanidade graças a um trágico incidente. Durante a prova, seu compatriota, o jovem promissor Roger Williamson, perdeu o controle de sua March após estourar um pneu, bateu em um guard-rail e capotou, se arrastando em chamas de cabeça para baixo por cerca de 100m.

Ao ver o acidente, seu amigo David Purley, piloto da LEC, simplesmente parou o carro, atravessou a pista correndo e tentou desvirar o carro em chamas. Não conseguindo, Purley implorou por mais ajuda dos fiscais de pista.

Mal equipados (sem roupas anti-fogo) e mal preparados para quaisquer atendimentos de emergência, eles em nada puderam ajudar. Enquanto isto, o consciente Williamson berrava: “David, me tire daqui!!!!”

Foi o próprio Purley que pegou o único extintor disponível e esvaziou o mesmo, sem debelar o fogo. Desesperado, ele chegou a ser afastado por um fiscal de pista, que levou um empurrão.

Torcedores igualmente em desespero tentaram invadir a pista para ajudar, mas foram contidos por fiscais de segurança com cães. Enquanto isto, do outro lado da pista, Purley desolado andava de um lado para o outro, buscando alternativas na mais profunda angústia possível.

Estupidamente, o diretor de prova em Zandvoort achou que Purley tinha sofrido o acidente (não percebeu que Williamson estava no carro em chamas) e que não era necessário interromper a prova.

Se isto tivesse sido feito, um caminhão de bombeiros teria andado 150m na contra-mão e apagado o incêndio. O caminhão teve que dar a volta inteira na pista, em velocidade muito lenta, demorando mais de seis minutos nesta ação.

Quando o fogo foi definitivamente apagado, Williamson estava morto por asfixia. O primeiro da “Geração Perdida” (na qual se incluem os ingleses Tom Pryce e Tony Brise) se fora…

Os heróicos esforços de Purley, seu ato de extrema bravura em prol do próximo não ficaram esquecidos. Por estas ações ele recebeu do Governo Britânico a “George’s Medal”, a mais alta honraria do Império dada para um civil por ações de coragem e desprendimento pessoal. E as pistas começaram, definitivamente, a serem dotadas de melhores condições de trabalho.


Alguns anos mais tarde, Purley entrou no Guinness Book (“O Livro dos Recordes”) por causa de um acidente ainda na Fórmula-1. Ele sofreu múltiplas fraturas em 1977 quando o acelerador de seu carro travou e deixou o carro em alta velocidade na rápida pista de Silverstone. Purley bateu em um muro, com o carro desacelerando de 173km/h a 0km/h em mínimos 66cm!

Isto gerou uma força de 179,8G, normalmente fatal para qualquer pessoa. Mas Purley se tornou o primeiro ser humano a sobreviver a esta descomunal desaceleração e força, e foi isto que lhe colocou no “Guiness Book“…

Purley se recuperou das múltiplas fraturas mas não voltou a correr profissionalmente. Ele morreu aos 40 anos em um acidente quando fazia acrobacias com seu biplano para uma competição esportiva aérea…

Com este exemplo magnífico de como os carros e as pistas podiam ser fatais, mas que o ser humano está acima de tudo isto, encerro a série sobre a evolução da segurança na Fórmula-1. Espero que todos tenham gostado e tenham refletido.

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